“Porei inimizades entre ti e a mulher, entre a tua descendência
e a d'Ela; Ela te esmagará a cabeça, e tu armarás
ciladas ao seu calcanhar” (Gn 3, 15).
52.
Deus nunca estabeleceu e formou senão uma única inimizade,
mas esta
irreconciliável, devendo durar e mesmo aumentar
até o fim. É a
inimizade entre Maria, sua digna Mãe, e
o demônio; entre os
filhos e servos da Santíssima Virgem e os
filhos e satélites
de Lúcifer. Deste modo, o inimigo mais terrível
que Deus constituíu
contra o demônio é Maria, sua Santa
Mãe. E Maria, ainda
existindo apenas na mente de Deus,
foi por Ele dotada,
desde o Paraíso Terrestre, de tanto ódio
contra este maldito
inimigo, tanta diligência em descobrir a
malícia desta
antiga serpente, tanta força para vencer, aniquilar
e esmagar este
ímpio orgulhoso, que este a teme, não só
mais que a todos os
anjos e homens, mas, num certo sentido,
mais do que ao próprio Deus. Não é que a ira,
o ódio e o
poder de Deus não
sejam infinitamente superiores aos da
Santíssima Virgem,
visto as perfeições d'Ela serem limitadas.
Mas é que:
Em
primeiro lugar, Satanás, sendo orgulhoso, sofre
infinitamente mais
em ser vencido e castigado por uma pequena
e humilde serva de
Deus, e a humildade desta humilhao
mais que o poder
divino.
Em
segundo lugar, Deus conferiu a Maria um tão grande
poder sobre os
demônios, que eles temem mais um único dos
Seus suspiros por
alguma alma, que as orações de todos os
santos, e uma só
das suas ameaças, mais que qualquer outro
tormento. Isto foram
eles obrigados a confessar muitas vezes,
ainda que de má
vontade, pela boca dos possessos.
53.
O que Lúcifer perdeu por orgulho, ganhou-o Maria pela
sua humildade; o
que Eva condenou e perdeu pela desobediência,
salvou-o Maria
obedecendo. Eva, ao obedecer à serpente,
perdeu consigo
todos os seus filhos e entregou-os ao
demônio. Maria,
tendo sido perfeitamente fiel a Deus, salvou
juntamente consigo
todos os Seus filhos e servos, e consagrou-
os à Divina
Majestade (Santo Irineu).
54.
Deus constituiu não somente uma inimizade, mas “inimizades”,
não apenas entre
Maria e o demônio, mas também
entre a
descendência da Virgem Santa e a de Satanás. Isto
quer dizer que Deus
estabeleceu inimizades, antipatias e ódios
secretos entre os
verdadeiros filhos e servos da Santíssima
Virgem e os filhos
e escravos do demônio: eles não se amam,
nem têm qualquer
correspondência interior uns com os outros.
Os filhos de Belial
(Dt 13, 13), os escravos de Satanás,
os amigos do mundo
(não há diferença), até hoje perseguiram
sempre, e
perseguirão mais do que nunca, aqueles que pertencem
à Santíssima
Virgem, como outrora Caim perseguiu
seu irmão Abel, e
Esaú perseguiu Jacó, figuras dos réprobos e
dos predestinados. Mas
a humilde Maria alcançará sempre a
vitória
sobre este orgulhoso, e essa vitória será tão grande
que chegará a
esborrachar-lhe a cabeça, onde reside o seu
orgulho. Ela
descobrirá sempre a sua malícia de serpente, e
porá a descoberto
as suas tramas infernais. Dissipará os seus
conselhos e
protegerá, até o fim dos tempos, os Seus servos
fiéis contra
aquelas garras cruéis.
Mas o poder de
Maria sobre todos os demônios brilhará
particularmente nos
últimos tempos, em que Satanás armará
ciladas contra o
seu calcanhar, ou seja, contra os humildes
escravos e pobres
filhos, que Ela suscitará para lhe fazer guerra.
Eles serão pequenos
e pobres na opinião do mundo, humilhados
perante todos,
calcados e perseguidos como o calcanhar
o é em relação aos
outros membros do corpo. Mas, em
troca, serão ricos
da graça de Deus, que Maria lhes distribuirá
abundantemente.
Serão grandes e de elevada santidade diante
de Deus, e
superiores a toda criatura pelo seu zelo ardente.
Estarão tão
fortemente apoiados no socorro divino que esmagarão,
com a humildade de
seu calcanhar e em união com
Maria, a cabeça do demônio, fazendo
triunfar Jesus Cristo.
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