sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
O legado de Irmã Lúcia - a última dos pastorinhos de Fátima - parte 2
A vida longa da Ir. Lúcia acaba por ser uma pedra basilar no espalhar da Mensagem de Fátima pelo mundo inteiro. As cartas, os encontros, fortalecem e espalham a mensagem...
Bom, eu aí tenho de responder Sim e não (risos). A dada altura, a Santa Sé pede à Lúcia que não fale muito da Mensagem de Fátima, e ela obedece. Por isso, acho que muitas destas conversas não foram bem sobre a Mensagem de Fátima. Ela não regista o que fala, só com quem se encontra e que reza pelas suas intenções. Essas indicações serviram até para a proteger, porque ela foi constantemente invadida por jornalistas, por curiosos, gente com boa intenção e com má intenção.
Por outro lado, acho que ela difundiu a mensagem de Fátima pela sua fidelidade escondida, pela sua oração, pelo seu sacrifício, e isto sim, é espalhar Fátima, por aqueles modos que parecem pequenos, ineficazes, mas nós já sabemos que o nosso Deus é assim: transforma algo pequeno, que aos olhos do mundo não é nada, em algo eficaz.
A revelação dos segredos de Fátima tornou-se, para muitos, a essência de Fátima. Para outros, eram meros "atestados de credibilidade" para aquilo que foi logo dito na altura, que era o mais importante. Lúcia foi sempre clara nesta distinção?
Muito clara. Aliás, há uma altura em que, pelo testemunho das Irmãs com quem converso e do Pe. Kondor, fica entristecida. Dizia «estão à procura do que não sabem, e o que não sabem é tão pouco, e não dão atenção ao que já se sabe, e o que já se sabe é que é o importante». A Lúcia mostrava-se mesmo triste por esta característica dos seres humanos, que é a busca do sensacionalismo. Como era o segredo que não se sabia, era o que se pretendia saber. Para muitos seria uma curiosidade sadia, mas para a maior parte era só uma curiosidade porque não sabiam. Ela dizia «olhem para o que já está publicado, está lá tudo», e de facto está lá tudo. Já estava o sofrimento da Igreja, o do Papa. O Anjo também era conhecido, assim como longo sofrimento da Igreja e o apelo à tríplice penitência do povo também já lá estava implícito, pelo que não havia nada de drástico no segredo que faltava revelar. Aliás, foi por isso que muitos ficaram «ah, foi só isto?», quando o souberam. «Se as pessoas procurassem viver o que já sabem, não teriam tempo para andar a descobrir o que não sabiam», dizia.
Quando era criança, a Lúcia é enviada para as Doroteias em Vilar. Foi por desejo próprio, ou por necessidade de ser protegida de tudo o que tinha sucedido?
Vai para Vilar para receber educação, mas também porque D. José a queria proteger. Aquele fluxo de gente que iniciou em 1917 nunca mais parou, nunca mais, até ao dia de hoje. Há 100 anos, no início, não há uma única operação de marketing para espalhar a Mensagem. Portanto, é um movimento que se inicia, e se, em outubro de 1917, já tínhamos 70 mil pessoas na Cova d'Iria, que vieram a Fátima e interrogaram os videntes até à exaustão, em 1921 a saúde física e psicológica da Lúcia está em risco, simplesmente porque a vida dela não é normal. Havia os crentes, os que a chamam de santa porque viu Nossa Senhora, os que a chamam de mentirosa, porque anda a enganar o povo, e isto é muito para uma criança de 14 anos. É muito engraçado que, desde 1921, Fátima fica sem os seus três principais protagonistas. Francisco morre em 19, Jacinta em 20 e Lúcia sai em 21, e a Mensagem continua. Portanto, não há nada que eles pudessem ter feito para alimentar o aumento do número de peregrinos, já que dois morrem e uma sai e é isolada do mundo. Isto é bonito. É Deus a tentar mostrar os verdadeiros protagonistas desta história, que sou eu, o Ricardo e todos os que vêm a Fátima. Eles foram os primeiros, que nos deixaram um testemunho e que foram instrumentos de transmissão, mas depois partem, porque aqui o que se passa é o encontro de Deus com cada um de nós que se aproxima com esta presença maternal de Nossa Senhora, e que está aqui para nos acolher, a esta humanidade deprimida, assustada, sem sentido, com muitos medos. Isto é tão real que a Lúcia rapidamente sai de cena, porque Fátima é entre Deus e nós.
sources: Família Cristã
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